De acordo com o periódico médico Pigment Cell & Melanoma Research estima-se que entre 0,1% e 2% da população mundial seja portadora de vitiligo. No Brasil, esse percentual equivale a 0,54% da população. [1]Huang CL, Nordlund JJ, Boissy R. Vitiligo. American Journal of Clinical Dermatology. 2002 Aug;3(5):301-8.
Ainda não se sabe a real causa da doença, que apesar de não ter cura, possui tratamento, que deve ser iniciado assim que descoberta. Daí a importância de consultar um dermatologista quando notar alguma mancha na pele, principalmente se parecer que ela está “perdendo a cor”.
Continue lendo o post, entenda mais sobre o vitiligo, possíveis causas, como se manifesta e tratamento. Boa leitura!
O que é vitiligo?
O vitiligo é uma doença não infecciosa causadora da despigmentação da pele, resultado da morte das células produtoras de melanina. A consequência é a perda da cor natural, e com seu desenvolvimento, surgem manchas brancas por todo o corpo, sobretudo nas mãos, pés, cotovelos, joelhos, pés e virilha, além de outras regiões com menor incidência como cabelo e interior da boca[2]Halder RM, Chappell JL. Vitiligo update. InSeminars in cutaneous medicine and surgery 2009 Jun 30 (Vol. 28, No. 2, pp. 86-92). WB Saunders..
A causa não é clara, no entanto, a manifestação está associada a alterações no sistema imunológico, podendo ser desencadeada por situações de estresse emocional, por exemplo.
Ademais, pode estar ligada a herança genética, visto o fato de ser uma condição comum entre membros da mesma família.
Existem basicamente dois tipos de vitiligo:
Segmentar ou unilateral
Inicia em apenas uma parte do corpo, geralmente as primeiras manchas surgem na juventude, e pelos e cabelos também podem perder sua cor característica.
Não segmentar ou bilateral
É o tipo mais frequente e tem como principal característica a manifestação simétrica nos dois lados do corpo, como as duas mãos ou os dois cotovelos.
Na maior parte dos casos, as manchas surgem inicialmente nas extremidades, manifestando-se de forma cíclica, alternando entre períodos de ativação e não ativação, expandindo as áreas afetadas e o tempo das crises.
Como não é causado por nenhum microorganismo como bactérias ou vírus, o vitiligo não pode ser transmitido de uma pessoa para outra. Não há riscos de contágio quando há o toque ou relação sexual com a pessoa portadora de vitiligo[3]Yaghoobi R, Omidian M, Bagherani N. Vitiligo: a review of the published work. The Journal of dermatology. 2011 May;38(5):419-31..
Como é conduzido o diagnóstico?
O diagnóstico é essencialmente clínico, em que o dermatologista irá avaliar o padrão do surgimento e aumento das manchas, bem como o histórico familiar do paciente. Caso haja algum familiar com vitiligo, a atenção será redobrada.
Se necessário, será solicitado o exame de biópsia cutânea para revelar a ausência de melanócitos nas áreas afetadas, e exame de lâmpada de Wood que identifica a natureza das manchas[4]Zhang XJ, Chen JJ, Liu JB. The genetic concept of vitiligo. Journal of dermatological science. 2005 Sep 1;39(3):137-46..
A análise sanguínea também pode ser solicitada a fim de conduzir o estudo do sistema imunológico que vai revelar a presença de outras condições autoimunes como o lúpus eritematoso sistêmico.
O vitiligo tem cura? Quais os tratamentos?
Não, contudo, existem diferentes tratamentos, cuja escolha vai depender de fatores como idade, rapidez em que a doença está progredindo, percentual de pele acometida, sua localização e como a doença está afetando a vida do paciente.
Medicamentos e fototerapias (utilizando a luz) estão disponíveis para ajudar a restaurar a cor da pele, no entanto, os resultados variam conforme o caso e as respostas são imprevisíveis[5]Passeron T, Ortonne JP. Physiopathology and genetics of vitiligo. Journal of autoimmunity. 2005 Jan 1;25:63-8..
Alguns deles podem ter efeitos colaterais graves em algumas pessoas ou não ter eficácia com o tempo. Nesses casos, a maquiagem é recomendada para despistar as manchas.
Além dos tratamentos citados, o dermatologista pode recomendar cirurgia ou a combinação de abordagens. Seu médico pode também recomendar um medicamento aplicado à pele como terapia de manutenção para ajudar a prevenir recaídas.
Vamos aos principais tratamentos:
Medicação
Até o momento, nenhuma droga consegue interromper o processo desencadeado pelo vitiligo, mas alguns medicamentos, quando usados sozinhos ou em combinação com fototerapia, podem ajudar na restauração do tom de pele.
- Drogas que controlam a inflamação – aplicação de creme ou pomada corticosteróide na região afetada. Esse tipo de tratamento é eficaz nos estágios iniciais de vitiligo, podendo ser notada a diferença na cor da pele por meses. Podem surgir efeitos colaterais como afinamento da pele ou o aparecimento de estrias, ou linhas na pele.
- Os corticosteróides também podem ser administrados por comprimidos ou injeções nos casos em que a condição está progredindo rapidamente.
- Medicamentos que agem no sistema imunológico – são pomadas e cremes inibidoras da calcineurina, a exemplo do tacrolimus (Protopic) ou pimecrolimus (Elidel), são indicados para pessoas com pequenas áreas de despigmentação, principalmente na face e pescoço.
Terapias
Fototerapia
A fototerapia com ultravioleta B de banda estreita (UVB) pode interromper ou retardar a progressão da doença quando ativa. É mais eficaz quando associada aos corticosteróides e inibidores da calcineurina.
O tratamento é indicado duas ou três vezes por semana, mas os resultados são perceptíveis apenas dois a três meses após seu início, podendo levar até seis meses para obter o efeito total. Alguns efeitos colaterais são comuns como vermelhidão, queimação e coceira no local aplicado, contudo, desaparecem após algumas horas.
Combinando psoraleno e fototerapia
Esta terapia combina a fototerapia com o psoraleno, uma substância natural extraída de plantas, administrada via oral ou aplicada diretamente na área afetada pelo vitiligo.
Remover a cor restante (despigmentação)
É a opção indicada para casos avançados de vitiligo ou quando outras terapias não funcionam. O tratamento consiste na aplicação de um agente despigmentante nas áreas não afetadas a fim de clarear gradualmente a pele para que fique na mesma tonalidade das áreas descoloridas.
Essa terapia é mais longa, podendo levar até um ano com sessões diárias de uma ou duas vezes. Os efeitos colaterais incluem vermelhidão, inchaço, coceira e ressecamento da pele muito seca. Além disso, a despigmentação é permanente.
Cirurgia
Se a fototerapia e os medicamentos não apresentarem evolução, é possível considerar o procedimento cirúrgico, com técnicas com objetivo de uniformizar o tom da pele, restaurando a cor:
Enxerto de pele
Este procedimento consiste na transferência de pequenas partes da pele pigmentada saudável para as áreas que perderam o pigmento. É indicado quando as manchas são pequenas.
Os riscos incluem infecção, cicatrizes, coloração manchada e falha na recoloração da área.
Enxerto de bolha
Consiste na criação de bolhas na pele pigmentada e transplante para as áreas sem pigmento. Os riscos incluem cicatrizes, falha na recoloração da área e novas manchas de vitiligo na área em que foram retiradas as bolhas.
Transplante de suspensão celular
Este procedimento consiste na retirada de tecido da área de pele pigmentada que é colocada em solução e depois transplantada para a área afetada preparada. Os resultados são perceptíveis no primeiro mês de tratamento.
Os possíveis riscos incluem infecções, tons de pele irregulares e cicatrizes.
Além delas, outros tratamentos estão sendo desenvolvidos, como drogas para estimular a produção de melanócitos, células responsáveis pela produção de melanina, que dar cor à pele. O tratamento experimental mais promissor é o afamelanotídeo, que é implantado sob a pele para estimular o crescimento dos melanócitos.
Outro tratamento em estudo é a prostaglandina E2, uma droga que auxilia no controle dos melanócitos. O tratamento tópico em forma de gel está sendo testado como uma forma de restaurar a cor natural da pele em pessoas independente do grau de vitiligo.
É possível prevenir o vitiligo?
Não é possível evitar o vitiligo por se tratar de uma doença de predisposição genética. No entanto, a aceitação da condição, a estabilidade emocional e a confiança no tratamento são muito importantes para evitar o avanço da doença. Daí a necessidade de compreensão dos familiares e da busca de tratamento assim que notar as manchas no corpo.
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Dra. Juliana Toma – Médica Dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo – EPM
Clínica no Jardim Paulista – Al. Jaú 695 – São Paulo – SP
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Referências Bibliográficas
↑1 | Huang CL, Nordlund JJ, Boissy R. Vitiligo. American Journal of Clinical Dermatology. 2002 Aug;3(5):301-8. |
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↑2 | Halder RM, Chappell JL. Vitiligo update. InSeminars in cutaneous medicine and surgery 2009 Jun 30 (Vol. 28, No. 2, pp. 86-92). WB Saunders. |
↑3 | Yaghoobi R, Omidian M, Bagherani N. Vitiligo: a review of the published work. The Journal of dermatology. 2011 May;38(5):419-31. |
↑4 | Zhang XJ, Chen JJ, Liu JB. The genetic concept of vitiligo. Journal of dermatological science. 2005 Sep 1;39(3):137-46. |
↑5 | Passeron T, Ortonne JP. Physiopathology and genetics of vitiligo. Journal of autoimmunity. 2005 Jan 1;25:63-8. |