ARTIGO

O que é Eflúvio Telógeno?

Aumento repentino da queda de cabelo, grandes perdas na lavagem, fios pelo travesseiro, esses são os sinais mais conhecidos de eflúvio telógeno. O quadro, apesar de comum, deve receber a devida atenção[1]Harrison S, Sinclair R. Telogen effluvium. Clinical and Experimental Dermatology: Clinical dermatology. 2002 Jul;27(5):389-95.

Fala-se em eflúvio telógeno quando a perda de cabelo, que se dá entre 50 e 100 fios por dia, passa por um aumento acentuado. Diversas causas podem estar por trás desse processo, dentre elas febre, inflamações, estresse, reações a medicamentos, doenças sistêmicas, dermatite no couro cabeludo, etc[2]Liyanage D, Sinclair R. Telogen effluvium. Cosmetics. 2016 Jun;3(2):13.

É muito importante que a situação seja controlada ainda em seu estágio inicial, evitando grandes perdas que dariam mais trabalho para serem recuperadas. 

Ao longo deste artigo te apresentaremos em detalhes o eflúvio telógeno, seus sintomas e causas, além de falarmos sobre diagnóstico, tratamento e prevenção.

Fisiologia do crescimento capilar

Antes de entendermos o que é eflúvio telógeno, precisamos entender o ciclo capilar

Neste momento, cerca de 90% dos fios em sua cabeça estão em fase de anágena, ou seja, em crescimento. Os outros 10% estão em repouso. Essa é a realidade de todos nós[3]Malkud S. Telogen effluvium: a review. Journal of clinical and diagnostic research: JCDR. 2015 Sep;9(9):WE01.

O ciclo anágena dura aproximadamente 3 anos, enquanto o telógena (repouso) leva apenas 3 meses para chegar ao fim. 

Este processo se dá de maneira independente em cada folículo capilar. Os fios crescem a uma velocidade de 0,35 mm/dia e depois caem. Temos aproximadamente 100 mil fios de cabelo e perdemos cerca de 100 fios por dia, que se soltam desde a raiz.

queda de cabelo

Definição de Eflúvio Telógeno

Eflúvio telógeno é uma condição patológica marcada pelo aumento da queda diária de fios de cabelo, esta é a forma mais comum de alopecia difusa, há perda generalizada em todo o couro cabeludo. 

O problema acontece devido a uma interrupção prematura da fase anágena, que como consequência, faz com que mais fios de cabelo entrem na fase telógena do ciclo, que como vimos, dura aproximadamente 3 meses[4]Rebora A. Telogen effluvium: a comprehensive review. Clinical, cosmetic and investigational dermatology. 2019;12:583..

É por isso que o principal sintoma do eflúvio telógeno é a perda de cabelos. 

Enquanto praticamente 90% dos fios de cabelo de uma pessoa saudável se encontram em fase de crescimento, os portadores deste distúrbio possuem uma porcentagem maior que 10% de fios em fase telógena, ou seja, em período de queda.

Agora ficou fácil entendermos o que está por trás do eflúvio telógeno. Mais adiante falaremos sobre as possíveis causas dessa interrupção precoce do ciclo de crescimento capilar.

Tipos de eflúvio telógeno

Fala-se em dois tipos de eflúvio telógeno: agudo e crônico. Ambos os quadros são exatamente o que descrevemos anteriormente, a diferença está em como se manifestam. Veja.

Eflúvio telógeno agudo

Geralmente o distúrbio tem origem em um evento que aconteceu três meses antes da manifestação dos seus primeiros sintomas. Este tempo, tem relação com o preparo para a queda, que leva cerca de 90 dias. 

Ao invés de perderem entre 100 e 120 fios por dia, os pacientes acometidos passam a eliminar cerca de 200 a 300 fios, o que depende muito da causa do problema. 

Dentre os eventos mais comumente relacionados ao eflúvio telógeno agudo, podemos citar:

  • Alterações hormonais do pós-parto
  • Febre
  • Infecção aguda
  • Sinusite, pneumonia
  • Dietas muito restritivas
  • Doenças metabólicas ou infecciosas
  • COVID-19

Eflúvio telógeno crônico

Os primeiros sinais do eflúvio telógeno crônico, assim como no agudo, aparecem cerca de três meses após o evento causal. A diferença surge a longo prazo. Os períodos de aumento da perda de fios começam a se repetir ciclicamente com o tempo, duas a três por ano[5]García-Hernández MJ, Camacho FM. Chronic telogen effluvium: incidence, clinical and biochemical features, and treatment. Archives of dermatology. 1999 Sep 1;135(9):1123-4.

Devido a essas perdas repetitivas e às diversas interrupções precoces no crescimento capilar, esses indivíduos passam a ter o cabelo muito mais volumoso na base do que no comprimento. 

O problema pode estar associado a outras condições, como doenças autoimunes. A tireoidite de Hashimoto seria um ótimo exemplo. 

Quanto antes o distúrbio for controlado, menores são as perdas e mais simples é recuperar o dano, por isso, o diagnóstico e o acompanhamento médico é tão importante.

queda capilar 1

Aprenda a reconhecer os sinais

O segredo para detectar um problema de maneira precoce é conhecer os seus sinais, no caso do eflúvio telógeno não é diferente. 

Como diferenciar a perda fisiológica de cabelo deste distúrbio?

Você perceberá um considerável aumento no número de fios perdidos diariamente, temos algumas dicas nesse sentido: 

  • Haverá um grande número de fios em seu travesseiro pela manhã 
  • Após pentear o cabelo, perceberá um maior volume de fios presos a escova
  • Haverão mais fios no ralo após o banho 
  • Você perceberá fios de cabelos espalhados pelo chão da casa com frequência

Normalmente, a perda intensiva de cabelo é o único sintoma da doença. Contudo, ela pode surgir acompanhada de outras patologias, a dermatite seborreica é o melhor exemplo. Neste caso, além queda de fios exacerbada, você perceberá a descamação do couro cabeludo, que fará com que apareçam pequenos pedacinhos de pele morta em meio ao cabelo. 

A perda intensificada de fios tende a desaparecer espontaneamente em um prazo de três a seis meses, quando se encerra o período telógeno. Isso é o que geralmente acontece em quadros agudos, nos crônicos a doença cessa, mas reincide após um determinado período.

Por isso, a melhor forma de lidar com o problema é identificando e evitando sua causa. 

O que causa eflúvio telógeno?

Geralmente, a interrupção da fase anágena tem relação com um “costume” do nosso corpo. Sempre que acontece algo importante, como uma grande mudança ou que por algum motivo o corpo é impactado, o organismo naturalmente deixa de lado alguns processos menos importantes em prol de garantir o perfeito funcionamento de funções vitais.

Sendo assim, diante de uma infecção, por exemplo, é possível que o corpo negligencie um pouco as unhas e os cabelos na tentativa de concentrar esforços em um problema maior. Este é apenas um exemplo dentre muito outros. A seguir falaremos sobre algumas outras situações que podem causar este desequilíbrio e, portanto, o eflúvio telógeno. 

Canal YouTube Juliana Toma

Estresse

O estresse é em si um estado de luta ou fuga, o corpo entra em alerta e algumas funções se tornam mais aguçadas. A perda de cabelo pode aparecer com o tempo como resultado da manutenção prolongada deste estado.

Alterações hormonais

A alteração de um único hormônio é suficiente para causar consequências sistêmicas. Essas substâncias controlam diversos processos fisiológicos, e algumas delas podem interferir diretamente sobre o ciclo capilar. 

Um bom exemplo é o que acontece com a mulher grávida e durante o período pós-parto. No período gestacional o cabelo permanece por mais tempo em fase de crescimento, mas após o nascimento, as alterações hormonais experimentadas podem gerar a interrupção precoce da fase anagéna, levando ao que chamamos de eflúvio telógeno pós-parto.

Dieta pouco nutritiva

O cabelo requer alguns nutrientes essenciais como proteínas, ferro, vitaminas e zinco. Quando os fios são mal nutridos, naturalmente passam a cair de maneira precoce. Sendo assim, uma dieta pobre prejudica tanto a qualidade quanto a quantidade de cabelos. 

Por causa disso, dietas restritivas estão entre as causas mais comuns do eflúvio telógeno. Muitas pessoas, na tentativa de emagrecer, deixam de comer alguns alimentos essenciais a saúde, a perda capilar é apenas uma das consequências disso. 

Entenda, na falta, o organismo irá privilegiar funções vitais, seu cabelo e suas unhas podem ter que pagar o preço de uma má alimentação.

Medicamentos

Alguns medicamentos podem gerar como efeito colateral a queda capilar, por isso é tão importante que você evite a automedicação, consultando um médico de sua confiança antes de começar qualquer tipo de tratamento. 

Dentre os exemplos que merecem ser citados, os antidepressivos, anti-hipertensivos e os contraceptivos orais podem provocar queda capilar.

Condições subjacentes

Já citamos alguns exemplos de doenças que podem estar relacionadas ao eflúvio telógeno, como a dermatite seborreica e a tireoidite de Hashimoto. Tais condições afetam o corpo sistematicamente e dentre vários outros sintomas, podem provocar alterações no ciclo de crescimento dos fios.

Cirurgia ou Trauma

O caso da cirurgia e do trauma tem muito a ver com o quanto o corpo é afetado. Dependendo do tipo de procedimento ou lesão, da permanência no hospital e dos medicamentos, pode haver queda de cabelo.

efluvio telogeno

Diagnóstico

O primeiro passo a se tomar após reconhecer os sinais do distúrbio é procurar ajuda médica. Consulte um dermatologista de sua confiança. 

Durante a consulta, será realizada a anamnese, onde você terá a oportunidade de descrever a sua queixa em detalhes, o que será muito importante para diferenciação entre esse e outros problemas relacionados. 

O diagnóstico do eflúvio telógeno é majoritariamente clínico. 

O médico examinará o seu cabelo e couro cabeludo, em especial o diâmetro e o comprimento dos fios, o que será muito importante para distinguir este de um quadro de alopécia

Eventualmente podem ser necessários exames complementares, para esses casos podem ser prescritas análises microscópicas, bioquímicas, exames hormonais e de sangue, que também são úteis para identificação da causa desta queda excessiva de cabelo. 

Como tratar?

O eflúvio telógeno geralmente é autolimitado, o que quer dizer que nem sempre o tratamento é necessário, já que o problema tem duração predeterminada se não houver outra doença associada. 

Caso haja outra condição envolvida, o paciente deverá também ser tratado para tal, ou não conseguirá obter melhoras no quadro.

Além disso, muitas pessoas procuram formas de recuperar os fios de cabelo perdidos.

Não há um tratamento específico para casos de eflúvio telógeno, contudo existem algumas excelentes opções para quem deseja estimular o crescimento capilar. Veja alguns exemplos.

Remédios tópicos

Dentre os remédios tópicos mais conhecidos, o minoxidil é certamente o mais conhecido. Pode ser prescrito em conjunto com a finasterida, o que potencializa seus resultados.

Xampu antiqueda

Os xampus antiqueda também podem contribuir.

Embora eles não interrompam completamente a queda, eles a reduzem significativamente, além de fortalecerem os fios, evitando quebras.

Finasterida

O finasterida é um medicamento de via oral, conhecido por seus resultados contra alopécia androgenética, também pode ser útil para casos de eflúvio telógeno. 

Muito se fala sobre uma possível redução do desejo sexual por ele provocada, o que pode sim, acontecer, mas sua prevalência é significativamente baixa, cerca de 2% dos casos.

Terapia com laser 

Ainda não está completamente comprovada a eficiência da terapia com laser na recuperação de áreas de perda de cabelo.

Entretanto, muitas pessoas apresentam melhorias consideráveis devido a sua capacitada de incitar as estruturas capilares, o que torna este um tratamento muito procurado para combater os danos causados pelo eflúvio telógeno.

Microagulhamento

O microagulhamento é um procedimento um pouco mais invasivo, consiste na infiltração de alguns medicamentos no couro cabeludo através de pequenos furinhos criados com miniagulhas. 

O método ativa a produção de substâncias no corpo capazes de estimular o crescimento do cabelo, ajudando na recuperação das zonas já danificadas pelo distúrbio. 

Em geral, o prognóstico do quadro é bastante favorável. De qualquer forma, o acompanhamento dermatológico é muito importante.

Como evitar o eflúvio telógeno

Não há uma método de prevenção específico para o problema. Muitas das situações relacionadas são inevitáveis, como as alterações hormonais causadas pela gravidez ou menopausa, ou as situações estressantes que vivemos em nosso dia a dia. 

O ideal é que, independente de qualquer coisa, você procure um dermatologista assim que surgirem os primeiros sintomas do quadro. Além disso, se for passar por uma situação que possa desencadear o problema, a exemplo, uma cirurgia, já comece a fortalecer os seus fios e a cuidar da saúde dos seus cabelos com antecedência. 

Temos três dicas para você neste sentido. 

 

Alimente-se bem

Como vimos, a sua alimentação afeta diretamente a saúde do seu cabelo. Inclua em sua dieta alimentos ricos em proteínas, zinco, vitaminas e ferro. Além disso, não exagere na ingestão de gordura e carboidrato. 

 

Utilize produtos específicos para o seu tipo de cabelo

Cada tipo de cabelo tem suas próprias necessidades e isso independe de você ter feito algum tipo de química ou não. Pessoas que possuem cabelos secos, devem investir mais em nutrição e hidratação, o que é indicado com cautela para indivíduos de cabelos mais oleosos. 

O seu xampu, condicionador, creme ou óleo de cabelo deve valorizar as características positivas dos seus fios e compensar aquilo que eles têm de negativo. 

 

O que você não deve fazer

Existem ainda coisas a serem evitadas, alguns costumes que podem prejudicar a saúde dos seus fios e causar queda de cabelo, veja: 

  • Dormir de cabelo molhado
  • Prender o cabelo molhado
  • Passar muito tempo com o cabelo preso 
  • Lavar o cabelo com muita frequência 
  • Não lavar o cabelo adequadamente 
  • Fazer tratamentos com química

Ficou com alguma dúvida sobre eflúvio telógeno? Deixe sua pergunta abaixo, fazemos questão de te ajudar!

AGENDAMENTO ONLINE

Agende uma consulta através do nosso WhatsApp

Dra. Juliana Toma – Médica Dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo – EPM

Clínica no Jardim Paulista – Al. Jaú 695 – São Paulo – SP

Agende uma Consulta e saiba mais sobre os tratamentos e protocolos estéticos mais indicados para potencializar suas características naturais.

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas
1 Harrison S, Sinclair R. Telogen effluvium. Clinical and Experimental Dermatology: Clinical dermatology. 2002 Jul;27(5):389-95.
2 Liyanage D, Sinclair R. Telogen effluvium. Cosmetics. 2016 Jun;3(2):13.
3 Malkud S. Telogen effluvium: a review. Journal of clinical and diagnostic research: JCDR. 2015 Sep;9(9):WE01.
4 Rebora A. Telogen effluvium: a comprehensive review. Clinical, cosmetic and investigational dermatology. 2019;12:583.
5 García-Hernández MJ, Camacho FM. Chronic telogen effluvium: incidence, clinical and biochemical features, and treatment. Archives of dermatology. 1999 Sep 1;135(9):1123-4.

Dra. Juliana Toma

Médica Dermatologista - CRM-SP 156490 / RQE 65521 | Médica formada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Residência Médica em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Título de Especialista em Dermatologia. Especialização em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês. Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA. Ex-Conselheira do Conselho Regional de Medicina (CREMESP). Coordenadora da Câmara Técnica de Dermatologia do CREMESP (2018-2023).

1 Comente

Deixe o seu comentário.
  • Bom dia!!
    Estou passando por isso uma segunda vez. E é muito frustrante ver os cabelos caírem, muitos cabelos. No ralo, escova, travesseiro por tudo tem cabelo. O banho e um incômodo quando tenho que lavar os cabelos. Tenho medo de lavar pq cai muito.
    Quero agradecer pelo conteúdo do artigo. Agora sei o que é, e posso procurar ajuda.
    Obrigada

Deixe o seu comentário