Artigo

Dermatite Atópica: O que é, causas, sintomas e tratamentos.

A dermatite atópica, também conhecida popularmente como eczema atópico, é uma condição crônica que provoca inflamação, vermelhidão e coceira intensa na pele. Embora seja predominante na infância, pode surgir ou persistir na vida adulta.

Caracteriza-se por ser uma doença cíclica: o paciente alterna entre períodos de crise (flare), onde os sintomas se agravam, e períodos de remissão, onde a pele aparenta estar saudável. Frequentemente, a dermatite atópica faz parte da chamada “tríade atópica”, estando associada à asma e à rinite alérgica. É fundamental esclarecer: a dermatite atópica não é contagiosa. Com adesão ao tratamento e cuidados diários de reparação da barreira cutânea, é possível controlar a doença e manter a qualidade de vida[1]Leung DY, Boguniewicz M, Howell MD, Nomura I, Hamid QA. New insights into atopic dermatitis. The Journal of clinical investigation. 2004 Mar 1;113(5):651-7..

 

O que é dermatite atópica e por que ela ocorre?

dermatite atopica explicacao

Considerada a doença inflamatória da pele mais comum no mundo, a dermatite atópica manifesta-se clinicamente através de uma tríade de sintomas: ressecamento extremo (xerose), coceira intensa (prurido) e lesões avermelhadas e descamativas (eczema).

As lesões tendem a se localizar nas áreas de dobras (flexoras), como a parte interna dos cotovelos, atrás dos joelhos e pescoço, embora em bebês seja comum afetar o rosto e o couro cabeludo. Existe uma forte correlação genética e histórico familiar de atopia[2]Larsen FS, Hanifin JM. Epidemiology of atopic dermatitis. Immunology and Allergy Clinics. 2002 Feb 1;22(1):1-24..

A Falha na Barreira Cutânea: Para entender a doença, imagine a pele saudável como um muro de tijolos firme. Na dermatite atópica, o “cimento” (lipídios e ceramidas) que une esses tijolos é deficiente. Isso causa duas consequências principais: a água evapora facilmente, deixando a pele seca, e “invasores” (bactérias, alérgenos, irritantes) conseguem penetrar profundamente. O sistema imunológico reage a essa invasão com inflamação exagerada. As manchas podem variar de cor: avermelhadas em peles claras, e tons de marrom escuro, roxo ou acinzentado em peles negras[3]Leung DY. Pathogenesis of atopic dermatitis. Journal of Allergy and Clinical Immunology. 1999 Sep 1;104(3):S99-108..

O Ciclo da Inflamação

o ciclo da pele atopica

A inflamação na dermatite atópica resulta de uma interação complexa entre genética, sistema imunológico e fatores ambientais. A pele atópica é constitucionalmente mais frágil devido à falta de proteínas (como a filagrina) e gorduras essenciais para a retenção de hidratação.

Isso gera o perigoso “Ciclo Coceira-Arranhadura”:
1. A barreira fraca permite a entrada de irritantes;
2. O sistema imune reage inflamando a pele;
3. A inflamação provoca coceira intensa;
4. O ato de coçar quebra ainda mais a barreira da pele, reiniciando o ciclo.

Fatores externos, como poluição, clima seco, banhos quentes e contato com alérgenos, funcionam como gatilhos que “acendem” essa inflamação[4]Berke R, Singh A, Guralnick M. Atopic dermatitis: an overview. American family physician. 2012 Jul 1;86(1):35-42..

Embora a genética seja determinante (filhos de pais com rinite, asma ou dermatite têm até 50-70% mais chances de desenvolver a condição), a doença é multifatorial. Nem toda pessoa com histórico familiar desenvolverá sintomas, e a gravidade varia de leve a severa.

 

Quais são os principais gatilhos das crises?

Alérgenos aéreos (ácaros, pólen, pelos de animais e mofo)
Pele excessivamente seca (falta de hidratação regular)
Tecidos ásperos, sintéticos ou lã em contato direto com a pele
Fatores climáticos (ar seco, frio intenso ou calor excessivo com suor)
Banhos longos ou com água quente (removem a proteção natural)
Irritantes químicos (perfumes, amaciantes, sabonetes com detergentes fortes)
Estresse emocional e ansiedade (gatilho neuroimunológico)
Obesidade (estado pró-inflamatório do organismo)
Acúmulo de poeira no ambiente doméstico
Infecções de pele (bacterianas por Staphylococcus, virais ou fúngicas)
Contato direto com areia, grama ou terra
Mudanças bruscas de temperatura

Quais são os fatores de risco?

Histórico pessoal ou familiar de atopia (dermatite, asma ou rinite)
Pele constitucionalmente seca (xerose cutânea)
Sobrepeso ou obesidade
Exposição ao tabagismo (ativo ou passivo) e poluição
Residir em áreas urbanas com baixos índices de umidade

Sintomas e Sinais de Alerta

A apresentação clínica pode variar, mas existem padrões clássicos que indicam a necessidade de avaliação dermatológica:

Pele muito seca, podendo apresentar fissuras (rachaduras) ou secreção em casos agudos;
Coceira (prurido) intensa, que frequentemente piora à noite;
Manchas na pele (vermelhas, marrons ou acinzentadas);
Escoriações e feridas causadas pelo ato de coçar;
Liquenificação: espessamento da pele que ganha uma textura grossa e quadriculada devido à coceira crônica;
Pequenas bolinhas elevadas que podem vazar fluido e formar crostas.

A intervenção médica é necessária quando os sintomas impactam a rotina e o bem-estar.

Busque auxílio profissional imediatamente se:

A coceira interferir no sono ou nas atividades diárias;
Houver sinais de infecção (pus, crostas amareladas, estrias vermelhas, calor local ou febre);
Os tratamentos caseiros e hidratantes não estiverem surtindo efeito;

Diferença entre Psoríase e Dermatite Atópica

psoriase dermatite

 

Embora ambas sejam doenças inflamatórias, crônicas e não contagiosas, elas apresentam características distintas:

Dermatite Atópica: Mais comum em crianças, causa coceira muito intensa. Localiza-se preferencialmente nas dobras flexoras (parte interna dos cotovelos e atrás dos joelhos).

Psoríase: Mais comum em adultos. Forma placas bem delimitadas, grossas e com escamas prateadas. Localiza-se preferencialmente nas áreas extensoras (parte externa de cotovelos e joelhos) e couro cabeludo. A coceira na psoríase costuma ser menos intensa que na dermatite.

Preparação para a Consulta Médica

Para um diagnóstico preciso e rápido, prepare as seguintes informações antes de visitar o dermatologista:

  • Histórico de sintomas: Quando começaram? Há quanto tempo você sente coceira? Em que momentos do dia ela piora?
  • Histórico familiar: Alguém na família tem asma, rinite ou alergias de pele?
  • Produtos em uso: Liste todos os sabonetes, hidratantes, perfumes e produtos de limpeza que você utiliza.
  • Fatores de piora: Você nota piora com o calor, estresse ou certos tecidos?

Se as lesões não estiverem ativas no dia da consulta, levar fotos das crises anteriores pode auxiliar muito na avaliação médica[5]Leung DY. Atopic dermatitis: new insights and opportunities for therapeutic intervention. Journal of Allergy and Clinical Immunology. 2000 May 1;105(5):860-76..

 

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da dermatite atópica é essencialmente clínico. Isso significa que o médico experiente consegue identificar a doença examinando a pele e conversando com o paciente, sem a necessidade obrigatória de exames de sangue ou biópsias na maioria dos casos.

O dermatologista avalia a morfologia (aparência) das lesões, a localização típica e a presença de coceira crônica. Exames complementares (como dosagem de IgE ou testes de contato) podem ser solicitados apenas para investigar alergias específicas que funcionam como gatilhos ou para descartar outras doenças semelhantes.

Diagnóstico diferencial: O que mais pode ser?

Em casos onde o tratamento padrão não surte efeito ou a aparência é atípica, o médico deve considerar outras hipóteses. Algumas condições que se assemelham à dermatite atópica incluem:

Dermatite seborreica (caspa intensa), psoríase, dermatite de contato (alergia a substâncias específicas como níquel ou cosméticos), escabiose (sarna), infecções fúngicas (micoses) e linfomas cutâneos (raro).

Tratamento da Dermatite Atópica

O objetivo do tratamento não é apenas tratar a crise, mas espaçar ao máximo o surgimento de novas lesões. A abordagem é dividida em controle da inflamação e manutenção da barreira cutânea[6]Hanifin JM, Cooper KD, Ho VC, Kang S, Krafchik BR, Margolis DJ, Schachner LA, Sidbury R, Whitmore SE, Sieck CK, Van Voorhees AS. Guidelines of care for atopic dermatitis. Journal of the American … Continue reading.

1. Hidratação (A Base do Tratamento):
Fundamental para repor a barreira da pele e prevenir crises. O uso de emolientes deve ser diário e contínuo, mesmo quando a pele parece saudável.

2. Controle da Inflamação (Cremes e Pomadas):

  • Corticoides Tópicos: Padrão-ouro para tirar o paciente da crise. Devem ser usados sob prescrição para desinflamar rapidamente as lesões. O uso deve ser limitado ao tempo indicado pelo médico para evitar efeitos colaterais (afinamento da pele).
  • Imunomoduladores Tópicos: Pomadas sem corticoide (como tacrolimo ou pimecrolimo) que ajudam a controlar a inflamação de forma segura em áreas sensíveis (rosto, pálpebras, virilha) e na manutenção a longo prazo.

3. Controle da Coceira:
Anti-histamínicos (antialérgicos) orais podem ser prescritos, principalmente os que causam sonolência, para ajudar o paciente a dormir e evitar o ato de coçar durante a noite.

Em casos graves e resistentes (refratários), o dermatologista pode indicar fototerapia, imunossupressores orais ou medicamentos imunobiológicos modernos. Nunca se automedique[7]Thomsen SF. Atopic dermatitis: natural history, diagnosis, and treatment. International Scholarly Research Notices. 2014;2014..

 

Cuidados Diários e Mudança de Hábitos

O sucesso do tratamento clínico depende diretamente de como você cuida da sua pele em casa. Pequenos ajustes na rotina podem reduzir drasticamente a necessidade de medicamentos.

Hidratação Intensiva: Aplique cremes emolientes (sem cheiro/neutros) pelo menos duas vezes ao dia. Prefira cremes ou bálsamos mais espessos em vez de loções líquidas, pois hidratam mais profundamente.

O Banho Correto: É o momento mais crítico. Tome banhos rápidos (5 a 10 minutos) com água morna (não quente). A água quente remove a gordura natural da pele, agravando o ressecamento.

Limpeza Suave: Evite sabonetes comuns e bactericidas, que são muito agressivos. Use substitutos de sabão (“syndets”) ou óleos de limpeza. Não use buchas ou esponjas — a limpeza deve ser feita suavemente com as mãos.

A Regra dos 3 Minutos: Ao sair do banho, seque a pele apenas apalpando com a toalha (sem esfregar). Aplique o hidratante imediatamente, em até 3 minutos, com a pele ainda levemente úmida. Isso “aprisiona” a água na pele.

Vestuário: Evite lã e tecidos sintéticos diretamente sobre a pele, pois retêm calor e causam atrito. Prefira 100% algodão. Lave roupas novas antes de usar e enxágue bem para remover resíduos de sabão em pó e amaciante.

Controle Ambiental: Mantenha a casa arejada e reduza ácaros (remova tapetes, cortinas pesadas e bichos de pelúcia). Em climas secos, umidificadores de ar podem ajudar.

Unhas Curtas: Mantenha as unhas bem cortadas e lixadas para evitar ferimentos graves na pele durante crises de coceira noturna.

Proteção Solar e Piscina: Use filtro solar mineral ou físico (mais tolerados). Após piscina, tome uma ducha imediata para remover o cloro e hidrate a pele.

 

Adotar esses hábitos pode parecer trabalhoso no início, mas eles são a chave para prevenir o desconforto e reduzir a frequência das crises. A pele atópica bem cuidada pode permanecer saudável por longos períodos.

dermatite atopica 1
Dermatite Atópica: O que é, causas, sintomas e tratamentos. 5

Riscos do tratamento inadequado

A dermatite atópica exige disciplina. Negligenciar a hidratação ou usar medicações potentes sem supervisão pode levar a complicações sérias:

Infecções Secundárias: A pele ferida é porta de entrada para bactérias (causando impetigo ou celulite) e vírus (como o herpes simples, gerando o eczema herpético).

Neurodermite: O ciclo crônico de coçar engrossa a pele permanentemente, tornando-a mais rígida e irritada.

Impacto Psicossocial: A coceira constante afeta a qualidade do sono, concentração escolar e autoestima.

 

 

A dermatite atópica tem cura?

É uma doença crônica, o que significa que não existe uma cura definitiva, mas existe controle efetivo. A boa notícia é a história natural da doença: cerca de 60% das crianças apresentam remissão espontânea dos sintomas antes da adolescência.

Nos casos que persistem na vida adulta, o objetivo é manter a pele em remissão (sem sintomas) pelo maior tempo possível. Com o tratamento adequado e identificação dos gatilhos, o paciente pode levar uma vida normal.

 

 

Prevenção e Dieta

Uma dúvida comum é sobre a alimentação. Restrições alimentares (cortar leite, glúten ou ovos) não devem ser feitas preventivamente sem comprovação de alergia alimentar específica. Dietas desnecessárias podem prejudicar o crescimento da criança e não melhoram a dermatite.

A verdadeira prevenção está na manutenção da barreira cutânea através da hidratação diária, uso de sabonetes adequados e controle do ambiente para evitar os gatilhos já mencionados.

Consulte sempre um dermatologista para um plano de tratamento individualizado.

AGENDAMENTO ONLINE

Agende uma consulta através do nosso WhatsApp

Dra. Juliana Toma – Médica Dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo – EPM

Clínica no Jardim Paulista – Al. Jaú 695 – São Paulo – SP

Agende uma Consulta e saiba mais sobre os tratamentos e protocolos estéticos mais indicados para potencializar suas características naturais.

Fatores de Risco Principais

Os maiores preditores para o desenvolvimento da dermatite atópica são o histórico familiar de atopia (asma, rinite ou eczema) e defeitos genéticos na barreira da pele.

Canal YouTube Juliana Toma

Referências Bibliográficas

Referências Bibliográficas
1 Leung DY, Boguniewicz M, Howell MD, Nomura I, Hamid QA. New insights into atopic dermatitis. The Journal of clinical investigation. 2004 Mar 1;113(5):651-7.
2 Larsen FS, Hanifin JM. Epidemiology of atopic dermatitis. Immunology and Allergy Clinics. 2002 Feb 1;22(1):1-24.
3 Leung DY. Pathogenesis of atopic dermatitis. Journal of Allergy and Clinical Immunology. 1999 Sep 1;104(3):S99-108.
4 Berke R, Singh A, Guralnick M. Atopic dermatitis: an overview. American family physician. 2012 Jul 1;86(1):35-42.
5 Leung DY. Atopic dermatitis: new insights and opportunities for therapeutic intervention. Journal of Allergy and Clinical Immunology. 2000 May 1;105(5):860-76.
6 Hanifin JM, Cooper KD, Ho VC, Kang S, Krafchik BR, Margolis DJ, Schachner LA, Sidbury R, Whitmore SE, Sieck CK, Van Voorhees AS. Guidelines of care for atopic dermatitis. Journal of the American Academy of Dermatology. 2004 Mar 1;50(3):391-404.
7 Thomsen SF. Atopic dermatitis: natural history, diagnosis, and treatment. International Scholarly Research Notices. 2014;2014.

Dra. Juliana Toma

Médica Dermatologista - CRM-SP 156490 / RQE 65521 | Médica formada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Residência Médica em Dermatologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-EPM), com Título de Especialista em Dermatologia. Especialização em Dermatologia Oncológica pelo Instituto Sírio Libanês. Fellow em Tricologias, Discromias e Acne pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Pós-Graduação em Pesquisa Clínica pela Harvard Medical School – EUA. Ex-Conselheira do Conselho Regional de Medicina (CREMESP). Coordenadora da Câmara Técnica de Dermatologia do CREMESP (2018-2023).

1 Comente

Deixe o seu comentário.

Deixe o seu comentário