A acne é uma doença de pele extremamente comum, chegando a atingir entre 80 e 90% dos adolescentes e adultos jovens. Em geral, a condição é marcada pelo aparecimento de pontos pretos e brancos sobre a pele, além de pequenas pústulas que podem acabar deixando cicatrizes[1]Lehmann HP, Robinson KA, Andrews JS, Holloway V, Goodman SN. Acne therapy: a methodologic review. Journal of the American Academy of Dermatology. 2002 Aug 1;47(2):231-40..
A condição geralmente compromete a parte visível do corpo, em especial a face, levando a uma considerável queda na autoestima dos afetados.
O problema pode acometer qualquer pessoa, apesar de ser mais comum durante a puberdade, é visto, mesmo que em menor frequência, em neonatos, lactantes, crianças e adultos[2]Rivera AE. Acne scarring: a review and current treatment modalities. Journal of the American Academy of Dermatology. 2008 Oct 1;59(4):659-76..
Existem diversos tratamentos disponíveis, que variam de alternativas caseiras a procedimentos profissionais mais invasivos.
Muitos mitos e verdades sobre esse tema foram espalhados pela internet e muitas pessoas convivem com este distúrbio sem conhece-lo da maneira adequada. Neste artigo, você encontrará informações seguras sobre a acne, suas principais causas e as melhores opções de tratamento.
O que é acne?
A acne é uma condição anormal da pele caracterizada pela formação de cravos, cistos, caroços e espinhas. Tais alterações cutâneas são resultados de um processo inflamatório nas glândulas sebáceas e nos folículos pilosos, o que pode ter diferentes causas. Dentre as regiões mais acometidas, merecem destaque o rosto, o dorso e o peito.
Esta doença é significativamente mais comum na puberdade. A explicação para essa grande prevalência na segunda década de vida é simples, este é um período de grandes mudanças hormonais para meninos e meninas.
A acne tem relação direta com os hormônios sexuais, a elevação de seus níveis estimula a produção de gordura pelas glândulas da pele, o que pode ocasionar inflamações.
Geralmente, o problema se desenvolve em pessoas que possuem histórico familiar para o distúrbio, uma forte tendência hereditária já foi comprovada. Estima-se que a genética seja responsável por cerca de 80% dos casos.
No entanto, mesmo que ninguém em sua família já tenha apresentado este tipo de distúrbio, você não está completamente livre. Além disso, não é porque você tem histórico para a doença, que irá desenvolvê-la. Falaremos sobre outros fatores que podem ter relação com a acne mais adiante.
O quadro é bastante variável e além de se manifestar em diferentes localizações, pode ser classificado em graus, como veremos a seguir.
Graus de acne
Como vimos, a doença pode ser classificada conforte a sua gravidade[3]Leyden JJ. A review of the use of combination therapies for the treatment of acne vulgaris. Journal of the American Academy of Dermatology. 2003 Sep 1;49(3):S200-10..
Veja a seguir.
Grau 1
Esta é a forma mais simples do distúrbio. Neste caso, a acne se manifesta por cravos abertos (quando deixam pontinhos escuros a vista), ou fechados.
Grau 2
Este já é um estágio mais avançado, onde além das alterações descritas acima, ocorre formação de pequenas pápulas inflamadas e avermelhadas, geralmente ricas em pus. Em suma, podemos dizer que em seu grau 2, a acne já se manifesta por meio de cravos e espinhas.
Grau 3
O grau 3 é caracterizado por lesões nodulares maiores, em sua maioria bem endurecidas, além é claro, do que foi descrito nos graus anteriores.
Grau 4
Também conhecido como acne conglobata, é composto por cravos, espinhas e nódulos maiores, além de cistos que dão origem a pequenos abcessos e fístulas. Nestes casos, há um grande risco de formação de cicatrizes.
Grau 5
O grau 5 é o mais grave e deve ser tratado com bastante cautela. Mais conhecido como acne fulminante, é um problema raro marcado principalmente pela evolução das lesões típicas da doença para úlceras maiores, que surgem acompanhadas por sintomas sistêmicos.
Manifestações Clínicas
Sem dúvidas, os cravos e as espinhas são os sintomas mais conhecidos da acne.
No entanto, devemos ainda citar outras manifestações como aumento da produção de sebo pela pele, pontos negros ou brancos, pápulas, pústulas, nódulos, e em alguns casos, cicatrizes[4]Burkhart CG, Burkhart CN, Lehmann PF. Acne: a review of immunologic and microbiologic factors. Postgraduate medical journal. 1999 Jun 1;75(884):328-31..
Mas você saberia reconhecer esses sintomas? Os sinais da doença são úteis a sua classificação. Aprenda a diferenciá-los.
Cravos
Os cravos são pequenas lesões na pele, geralmente marcadas por pontinhos pretos ou brancos em sua parte mais externa.
Espinhas
As famosas e temíveis espinhas são um pouco maiores que os cravos e possuem uma ponta mais amarelada. Além disso, pelo menos em sua grande maioria, produzem pus.
Pápulas
As pápulas são lesões sólidas na pele, caracterizadas por inchaço e vermelhidão.
Pústulas
Em geral, a grande marca das pústulas é a produção de pus. As lesões aparentam pequenas bolhas sobre a pele.
Nódulos
Os nódulos são formados pelo crescimento anormal da pele em alguns locais do corpo, o que geralmente resulta em elevações e deformidades.
Cistos
Já os cistos são bolsas de tecido que podem estar preenchidas por ar, líquido ou pus.
Fatores de Risco
Certamente, as alterações hormonais são as principais causas da acne, por isso, devemos incluir em seus fatores de risco:
- Puberdade
- Alterações hormonais do período menstrual
- Gravidez
- Medicamentos que possuem corticoides e andrógenos em suas composições
Além disso, podemos incluir ainda outros fatores responsáveis por agravar o quadro ou mesmo desencadear o problema em pessoas que já tenham tendências genéticas a acne.
- Estresse
- Tocar muito no rosto
- Suor excessivo
- Deixar o cabelo em contato com a pele
- Esteroides anabolizantes
- Medicamentos a base de lítio
- Ingestão excessiva de produtos lácteos, gorduras e alimentos ricos em carboidratos
Causas de acne
Existem muitas possíveis causas para a acne, e na maioria dos casos há mais de um fator envolvido
Genética
A predisposição genética é uma das principais explicações para o aparecimento da acne. Essa herança é poligênica, o que quer dizer que existem vários genes relacionados.
Mas não basta ter histórico familiar para a doença, geralmente é necessário algum tipo de fator externo, que desencadeia o problema.
Alterações hormonais
As variação das taxas hormonais estão diretamente ligadas ao surgimento de cravos e espinhas.
Os hormônios sexuais estimulam uma maior atividade das glândulas sebáceas, além de provocarem o crescimento de glândulas foliculares, o que leva a um consequente aumento na produção de sebo.
Mais adiante falaremos sobre a fisiopatologia da acne e compreenderemos melhor qual a relação entre a oleosidade da pele e este tipo de distúrbio.
Infecções
Infecções na pele podem acontecer por variados motivos. Em geral, a infecção estimula respostas inflamatórias que podem levar a formação da acne.
A Propionibacterium acnes é a bactéria comumente envolvida nesse processo. Esse microorganismo tende a manter um ciclo de inflamações anormais, o que afeta a atividade das glândulas sebáceas e obstrui os poros da pele.
Dormir de maquiagem
Falando em obstruir os poros, esse também é o problema de dormir com maquiagem. Os resíduos dos cosméticos impedem o contato adequado entre a pele e o ar, favorecendo o surgimento de cravos e espinhas.
Medicamento
A acne pode surgir como efeito colateral de alguns medicamentos, como corticoides, andrógenos e remédios a base de lítio.
Alimentação
Existem muitos mitos a respeito da relação entre a alimentação e a acne. No entanto, é verdade que alimentos ricos em gorduras, doces em excesso e uma dieta rica em carboidratos estimulam a ação das glândulas produtoras de sebo, e por aumentarem a oleosidade da pele, podem causar cravos e espinhas.
Estresse
O estresse gera uma série de mudanças hormonais no corpo, o que como vimos anteriormente, pode ser a origem da acne. Além de estar entre as causas da doença, é também um de seus agravantes.
Fisiopatologia
Tudo acontece quando ocorre bloqueio dos folículos pilosos, dentre os principais culpados por essa obstrução, poderíamos citar uma produção anormal de sebo, depósitos de queratina, infecções bacterianas e até mesmo cosméticos.
Geralmente, o problema se inicia por mudanças hormonais. Quando ocorre aumento da produção de andrógenos, há estímulo ao alargamento das glândulas sebáceas, que naturalmente aumentam também a sua produção.
Em resposta a isso, o corpo deposita um excesso de proteína queratina sobre o folículo piloso, que funciona como uma espécie de tampão. Com o tempo este tempão dá origem a uma lesão aberta ou fechada, branca ou escurecida, dependendo da oxidação da melanina.
As regiões alteradas possuem condições ideais para a bactéria Propionibacterium acnes. Esta combinação de fatores leva a respostas inflamatórias do corpo, o que pode ocasionar a formação de pápulas, pústulas ou nódulos.
Diagnóstico
Em geral, o diagnóstico da acne é predominantemente clínico.
Durante a consulta dermatológica, será considerado o histórico do paciente, doenças de pele pré-existentes, idade inicial das lesões, ciclo menstrual e sinais de androgenização.
Além disso, durante o exame físico deve ser avaliado o tipo de lesão, extensão e a gravidade da doença.
Na maioria das vezes, a anamnese acompanhada por um exame clínico detalhado é suficiente para o diagnóstico da acne. Contudo, alguns casos mais complexos, podem exigir testes complementares, em especial se houver suspeita de doenças metabólicas ou neoplásicas.
Diagnóstico Diferencial
O diagnóstico diferencial é um método de identificação de doenças por um processo de eliminação.
No caso da acne, geralmente fazem parte desta avaliação:
- Foliculite
- Rosácea
- Verruga plana
- Adenoma sebáceo (esclerose tuberosa)
- Miliária rubra
- Dermatite perioral
- Hidradenite supurativa
- Doença de Favre-Racouchout;
- Sífilis secundária
Cuidados diários
Algumas medidas simples devem ser tomadas diariamente para evitar o agravamento do quadro e a contaminação das lesões.
Para começar, nunca esprema as espinhas, pois isso aumenta o risco de contaminação da pele e pode levar ainda ao aparecimento de novas lesões.
Evite usar cosméticos oleosos, em especial no rosto. Ao invés disso, prefira hidratantes e filtros solares específicos para pessoas com acne, pois ajudam a controlar a produção de sebo.
Use sabonetes adequados para o seu tipo de pele e se possível, peça ao seu dermatologista indicação por opções que combatam cravos e espinhas.
Extração de acne
A extração pode sim ser benéfica, desde que feita por profissionais adequados.
As limpezas de pele retiram os resíduos da pele e ajudam no controle da infecção e da oleosidade.
Medicamentos
Alguns medicamentos são recomendados para controle da acne. Dentre os mais utilizados podemos citar o benzoílo, antibióticos, retinoides, anti-seborreicos e antiandrogénicos.
Apesar de contribuírem, não devem ser utilizados sem prescrição médica adequada. Como todos os fármacos, esses remédios podem oferecer risco a saúde se não administrados da maneira correta[5]Thiboutot D, Gollnick H, Bettoli V, Dréno B, Kang S, Leyden JJ, Shalita AR, Lozada VT, Berson D, Finlay A, Goh CL. New insights into the management of acne: an update from the Global Alliance to … Continue reading.
Fototerapia
A fototerapia é muito utilizada para tratar distúrbios de pele. Através da emissão de pulsos de luz, o tratamento age diretamente sobre a área afetada reduzindo a ação das glândulas sebáceas.
Além disso, este tipo de técnica acelera a recuperação da pele e age no controle da inflamação, benefícios essenciais ao cuidado com a acne.
Dermoabrasão
Diferente das opções apresentadas anteriormente, a dermoabrasão é um tratamento direcionado para as cicatrizes. O procedimento minimiza cicatrizes e depressões na pele.
Apesar dos benefícios, é uma técnica dolorosa e com potencial de provocar diversos efeitos adversos, como vermelhidão e alterações da sensibilidade da pele.
De maneira geral, o tratamento contra acne deve ser feito conforme orientação de um dermatologista, que avaliará cada caso analisando qual a melhor terapêutica para o paciente.
Como prevenir a acne
Você não precisa esperar o problema aparecer para começar a se cuidar. Pensando nisso, separamos algumas dicas de prevenção importantíssimas.
Mitos e Verdades sobra a Acne
Agora que você já sabe tudo sobre a acne, chegou a hora de desmitificarmos algumas informações espalhadas por aí.
Exercícios físicos fazem bem para a pele
Verdade. A atividade física melhora a circulação sanguínea, aumentando a oxigenação dos tecidos e facilitando a eliminação de toxinas, o que faz bem para o corpo e para a pele.
Chocolate causa acne
Mito. Todo tipo de excesso é prejudicial, mas o chocolate em si não causa acne. A sua relação com a doença tem a ver com as altas doses de açúcar utilizadas em sua composição, que em grandes quantidades, podem sim favorecer o problema, em especial se a pessoa já for predisposta a cravos e espinhas.
Pessoas de cabelo oleoso tem mais predisposição a acne
Verdade. Como vimos, o distúrbio tem relação direta com a produção de sebo pela pele, o que inclui o couro cabeludo.
Protetor solar aumenta as chances de desenvolver acne
Mito. Em geral, o uso de filtro solar é benéfico e indispensável. No entanto, deve-se optar sempre por um produto específico para o seu tipo de pele.
Água quente pode piorar a acne
Verdade. Tomar banhos ou mesmo lavar o rosto com água quente pode agravar a acne, pois o calor estimula a atividade das glândulas sebáceas.
A doença é contagiosa
Mito. A acne pode ser infecciosa, mas não contagiosa. O problema é causado por uma resposta do organismo e não pode ser transmitido de pessoa para pessoa.
De qualquer maneira, cuide-se e previna-se. Diante de qualquer sintoma, procure ajuda médica. Quanto antes o tratamento for iniciado, mais rápido você ficará livre do problema.
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Dra. Juliana Toma – Médica Dermatologista pela Universidade Federal de São Paulo – EPM
Clínica no Jardim Paulista – Al. Jaú 695 – São Paulo – SP
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Referências Bibliográficas
↑1 | Lehmann HP, Robinson KA, Andrews JS, Holloway V, Goodman SN. Acne therapy: a methodologic review. Journal of the American Academy of Dermatology. 2002 Aug 1;47(2):231-40. |
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↑2 | Rivera AE. Acne scarring: a review and current treatment modalities. Journal of the American Academy of Dermatology. 2008 Oct 1;59(4):659-76. |
↑3 | Leyden JJ. A review of the use of combination therapies for the treatment of acne vulgaris. Journal of the American Academy of Dermatology. 2003 Sep 1;49(3):S200-10. |
↑4 | Burkhart CG, Burkhart CN, Lehmann PF. Acne: a review of immunologic and microbiologic factors. Postgraduate medical journal. 1999 Jun 1;75(884):328-31. |
↑5 | Thiboutot D, Gollnick H, Bettoli V, Dréno B, Kang S, Leyden JJ, Shalita AR, Lozada VT, Berson D, Finlay A, Goh CL. New insights into the management of acne: an update from the Global Alliance to Improve Outcomes in Acne group. Journal of the American Academy of Dermatology. 2009 May 1;60(5):S1-50. |